julho 23, 2011

Jorge já estava estressado pelo tempo ruim que havia estragado sua noite e os pelos do nariz, que haviam crescido demais, também não ajudavam. Encerrou a discussão que começou na escuridão com a água que descansava no copo e sal light, dizendo: “Mulheres também cagam, Julia! Mulheres também cagam…”.

11.1.2011

janeiro 11, 2011

Estava deitando: preciso agora descansar as costas fracas de homem que do corpo pede a mão e o mínimo de esforço das pernas para entrar na escada rolante; encostei a cabeça sobre a areia fofa e que ainda se reservava fresca sob o guarda sol. Como dia estava bonito! E a cidade mais incrível do que nunca! tinha movimento. os turistas já estavam chegando com suas câmeras e suas sandálias fotografando cada metro quadrado da cidade, que aos meus olhos continuava fria e vazia. Meus pés neste momento, fora do alcance da barraca, queimavam feito queijo coalho, não me importei. Estava observando que agora recebia todo o som da praia. Ressoado na cúpula vinha a meus ouvidos como naqueles protótipos instalados nos museus onde duas crianças em extremos do espaço gritam de dentro de uma superfície parabólica: aloooo; e a outra recebe tudo, absolutamente tudo, focado na sua testa que vibra junto com a felicidade de ter escutado sua melhor amiga. Minha mente vibra também e pulo de alegria.

Distante um metro e meio, ou um pouco mais, um casal provavelmente de estrangeiros discutia a personalidade, e investigava o inconsciente das pessoas que passavam. “A praia é extremamente rica…” dizia o homem, que chamarei de Albert. Referia-se ele, a substância, antropológica, sociológica, étnica, ou até como mesmo mencionou: “os valores individuais do ser humano…”. Sua mulher (chamaremos ela de Jenny. Jenny é bom nome para uma senhora texana), Jenny, tinha voz suave mas um pouco rouca. Deveria ser mais um casal típico dos estados unidos: o cara gordo usando uma camisa xadrez com cinza e azul marinho, provavelmente com a escrita pequena sobre o peito de um nome de uma empresa de petróleo; a mulher, cabelos loiros encaracolados, bem cheios, e ressecados pelo sol do amado texas. Albert deveria dizer ao acordar vendo sua bandeira dos estados unidos da américa: “Ahhh estados unidos, agradeço a tudo que me deu neste estado maravilhoso” imaginou… mas disse: “Querida, os waffles estão prontos?”; sempre com muito amor e ingenuidade de um cego americano.

estive no texas uma vez. era novo. o hotel era extremamente… estranho. muito esquisito, apesar de um lustre enorme de cristal na entrada e um lago com plantas. acho que foi caro inclusive. Não existe nada no texas. Andei muito nas calçadas e não via ninguém.

Começaram pelo vendedor de salgados árabes: esfirras de queijo, espinafre, acelga; quibes de carne, requeijão; sempre dizendo “Mustafá. Mustafaaaaá. Olha o salgado do Mustafá…”.

“Querida, você acha que ele foi fundamental na expansão do império otomano para américa ocidental?”, disse Albert.

“Quem Albert?”. Jenny fez uma pausa na leitura da sua revista.

“O Mustafá!”.

“Claro! Claro, Albert!”.

Jenny tinha aprendido a gostar de Kara Mustafá, desde de que soube, que ao ser derrotado e punido com a morte por enforcamento, as ultimas palavras de Kara Mustafá foram: “Esteja certo que você amarrou corretamente o nó.”

Foi um momento incrível as horas que se sucederam. Queria ter conhecido Albert e Jenny McCoy. Queria ter jantado com eles pelo menos. Queria tantas coisas. Mas o mundo é duro e o que pesa é a vida que toca.

O sonho morreu, o fracasso surge da terra germinando lentamente enquanto se sente magoa e tristeza. Em muitas vezes conquistei a idéia de amar o sofrimento tanto quanto o próprio amor, mas acho que isso se passa ou no nirvana ou quando simplesmente se está pouco se fudendo. Na minha vida aconteciam algumas coisas: namoro, casa, família; nada que ninguém nunca tenha visto ou sentido mas que continuam complicadas para todos desde de sempre. Temos carros, máquinas que voam, mas sofremos pelas mesmas coisas… em termos de desenvolvimento humano.. não vejo muito progresso. E pra mim, isso não é bom.

Chorei muito sem saber exatamente porquê. Nada faz sentido agora.

1.3.83

setembro 30, 2010

sete e meia. desde de que os invernos hoje se tornaram severos demais, os patos reclamam sem parar durante a noite. concordo com eles. reclamaria também se não fosse o luxo da lareira e do cobertor de lã.

fiz sopa de ervilha hoje.

coloquei um pouco limão para evitar que ficasse com aquele sabor tão denso e fechado típico; funcionou bem apesar de ter consciência que exagerei, acho que três gotas estaria bem.

almocei no bar da praça alvoredo, estava completamente aéreo e contente por não ter ninguém para me vigiar e se sensibilizar com a minha frieza. Já pensei durante vários anos da minha vida que a idéia de ter amigos poderia ser boa; bom que isso tudo já passou. lembro da sensação repugnante que sentia quando tinha pessoas a minha volta: as relações sociais começam a base dessa idéia idiota de amor e compaixão e operacionalmente a evolução conduz tudo isso para uma simples questão de padrões, onde identificam-se o sim, o não, e tudo aquilo que agora já não muda, e tem que ser; e quando não é: “você me magoou!”. completamente patético. viver a base de expectativas como se nada pudesse ser novo: a surpresa é um trauma, com a exceção das parodias de comédia romântica; carlos não pode se matar; e eu que sou louco, estou completamente fodido.

vivo na merda. estou mal. muito mal. minha frieza é a única maneira que arrumei para viver não conseguindo ter uma relação sincera com nenhuma pessoa ao longo da minha vida, nem pela minha mãe, ou pelo pai; nunca tive a sensação de sinceridade no tom da palavra de ninguém. fui tido como louco oficialmente pela primeira vez quando disse a um padre que ele mentia durante a missa de domingo em agosto de 68, ele tentou me exorcizar sem sucesso. a ciência tomou conta: levei choques; fui diagnosticado como esquizofrênico principalmente pelo relato do padre antônio. disse ele que estava sendo conduzido por um espírito maligno que mantinha conversas constantes; até 72 estive preso em um manicômio. foram quatro anos de tratamento sem efeito, mas o suficiente para ser julgado apto a andar pelas calçadas. fui punido. me massacraram. até hoje sem motivo.

as pessoas se sentiam mal: eu via nos olhos; podia ser grosso e não estar dentro do tipo linguagem que elas esperavam, mas não era isso; elas sentiam pavor de mim; trago medo a todas elas; trago ódio; trago raiva. tenho certeza que eu sou o pior que poderia acontecer a qualquer um. eu não me importo com o fato de serem todos mentirosos, de forjarem amor por um filho, de forjarem honra e gentileza ou ainda de falsificarem a própria identidade. eles se importam que eu diga que ele matou a filha porque não conseguia sair a noite para dançar com garotas mais novas; eles se importam que eu diga que ele perdeu a perna porque nunca usava; eles se importam porque eu disse e repetirei que vão sofrer para sempre, e a cada ano que passar vão sofrer mais e mais apesar de doarem sangue a cada três meses e dez por cento do seu salário para pessoas que julgam necessitadas. e quando algo acontece, de fato, sou eu o culpado, quem mais senão Deus para assumir a culpa.  ∫

junho 25, 2010

Ei!! Oi! muito tempo que não te vejo.

é… verdade, o tempo passou e às vezes as coisas somem simplesmente, você foi uma delas.

Tinha preparado isso?

Não, desculpa, não quis ser grossa, mas, sei lá, você desapareceu.

Tudo bem. Eu tenho essa sensação também… Talvez pudesse ter dito tchau, ou feito uma festa de despedida. Eu convidaria você, lógico. Mas, ao mesmo tempo queria evitar a dor da despedida, deixei um bilhete embaixo da porta e f…

Que bilhete?

É uma metáfora…

Ahh…

…e fui embora simplesmente, mas não tão simplesmente: limpei o tapete e joguei o leite que estragava na geladeira. Não se sinta mal, mas tenho um certo ódio de você.

Isso ainda é uma metáfora?

A parte do leite sim… o ódio… não.

Ódio de que? Ainda sente? Você usou presente na frase, eu vi!

Hoje não tanto, só um pouquinho. Cara você tinha uns vícios de movimento. Eles eram repetitivamente provocantes. Viu! Ai! De novo, toda hora que alguém fala de você, você pega na sua orelha e coça a perna direita logo abaixo do joelho. Cara isso é muito provocativo. Tive até problema no coração por causa disso. E você sempre… que bizarro! Sempre quando o telefone tocava você ia até ele e ficava esperando ele tocar de novo para atender! Porque não atendia logo?!

De repente a pessoa já tinha desligado…

Então… É…… Como você tá?

(…)

Agora na inocência da noite, onde todos os homens são homens, confesso a mim mesmo as estranhezas do meu dia e minhas incapacidades. Não com som de arrependimento, mas com forma contemplativa. É quase que por um certo momento vivesse em mim o super-homem, que ri da singularidade daqueles momentos acima de coerência em um diálogo, ou ainda acima do bem e do mal. Se fui justo, ou se magoei, se te feri, no fundo, no fundo, eu to tentando…. E to tranquilão. Chorando, tropeçando e caindo de cara na merda passada. Não que eu ache manero, é só de alguma forma… interessante. Mas chega a hora em que se para de ver a vida como um filme interessante só por ser sincero, e pelo cansaço vem a mudança.

Oi, tudo bem?

Oi. Você me ligando?

É… achei de bobeira o telefone aqui. E disse: “porque não?”

Ahh… claro. Com essa despretensão toda, Sr. Não-repita-movimentos-que-me-estresso?

É. Vai fazer alguma coisa hoje?

Não sei. E você?

Também não.

junho 1, 2010

Hoje me mantive calmo. Tudo correu bem. Coisas novas estão surgindo. E não falo de nada substancial, como um novo apartamento, melhor que este, longe do barulho dos carros e das confusões familiares; seria bem melhor: larguei minha casa, inúmeros amigos porque falavam demais e estou aqui, em um prédio sem número no centro da cidade. Falo na verdade de coisas extremamente vagas. Como a mudança do cobrador. Um livro que cai em cima da mesa. E… sei lá, o fato de agora preferir meias pretas. Não fui sincero ao me referir a estes acontecimentos como vagos, simplesmente não quero explicar e nem me interessa a proposta de tentar expressá-los como um poeta faria, seria um fracasso além de tudo. A história é realmente longa, ou melhor… ; posso falar realmente em uma linha que não teria nenhum valor (ou realmente não tem). Prefiro deixar assim, aquele ar escroto de mistério que os roteiristas usam em dramas terminados repletos de angustia, e seguem visto dualisticamente como uma história mágica repleta de significados complexos indo de geometria diferencial a antigos escritos de nômades esquimós e, também, simplesmente, como um drama mal terminado.

No meio dessa historia existe outra, muito parecida. Eu, hoje, entendo tudo, e tenho certeza disso. Mas não saberia explicar. Essa é a história. E só!

Tem outra também. Que te amo. Mas não sei mostrar. E essa é a história. E só! E só!

Eu tenho medo de falar demais. Já passei por todos os níveis possíveis de transição de consciência. Já experimentei a loucura, a certeza, e tudo no meio, e inclusive a falta de todas elas. Eu tenho medo de dizer pouco também. Seria o limite de coerência de exposição, mas mais que isso, certas coisa não fazem sentido serem expostas mesmo que viva dentro do peito uma enorme força de gritar: eu te amo; eu guardo meu amor comigo e morrerei com ele verdadeiro, e talvez sinta pena se ninguém o tiver conhecido. Sentirei pena se pensar que não entendo, e claro se achar que não te amo por não falar.

Mas acredito que assim tem que ser. Acredito na beleza coerente num mapeamento conforme entre mente e fisicalidade nas devidas limitações e aceitação de suas transformações como as vozes dos sofistas são as dos deuses.

O sonho parisiense

maio 23, 2010

Nos últimos meses tem sido complicado. Desde que fui despedido e dinheiro não é problema pela morte do meu tio: fazendeiro, dono de algumas terras destinadas à pecuária, que acabaram sendo transformadas para criar camarões VG em cativeiro em larga escala; lagostas também, mas essas eram poucas, e deixavam a desejar, acho que por estarem longe demais de onde deveriam cresciam em depressão o que tornava sua carne fraca; os camarões não, tem merda demais na cabeça para desenvolverem questões existenciais; viviam felizes pelo menos. Fiquei com boa parte do dinheiro da venda das terras, que agora servem novamente de pasto para gado de corte argentino. Estou rico basicamente. Uma poupança rende o suficiente para eu viver, viver demais talvez.

Não me falta alegria, amor, tristeza, solidão, torturas, luxos nem miséria. Tenho de tudo sinceramente. Estou enjoado. Talvez uns tempos em Paris me fizesse bem. Um pouco de luxo e elegância do modo europeu: fala o quanto precisa, sucinto por segurança. Em paris beberia café e fumaria charuto, ou um belo cachimbo de madeira nobre que compraria do meu melhor amigo de infância: residente na região de Provence ou Côte d’Azur em um vilarejo aconchegante demais para um dia ir e não voltar; é artesão renomado. Aqui é diferente. Pessoas são inseguras e precisam gritar o tempo todo quanto conseguem alguma coisa que elas chamam de sucesso, e quanto não existe sucesso, que sua mãe contemplaria com bom-menino, inventa-se: uma história ou personalidade exuberante; flamejante que chega a queimar os olhos quando se olha de perto. O horror!

Mas enquanto estive aqui, minha cabeça vagou por pensamentos ariscos e confusos; sensações que mudam segundo a segundo. Talvez esteja participando de processos obsessivos consecutivos e não esteja percebendo. Faz certo sentido… talvez. Apesar de ter perdido meu emprego, retomei uns estudos que tinha na faculdade sobre a participação de esquizofrênicos na evolução da psicanálise e ultimamente não tenho cumprimentado pessoas e nem esboçado nenhum um tipo de sentimento. Estou quase que abandonado. Parei comer e acabei engordando, minhas unhas dos pés já enrolam, as flores que tinham aqui em casa tem fungos pelo caule, as formigas controlam o açúcar e se divertem aos domingos no leite. Fui abandonado e estou sendo invadido. “Acho que preciso me vender, deixar que alguém tome conta do que não posso”, foi o que disse a mim mesmo antes de tirar esta conclusão.

Eu acho que vou mesmo a Paris.

17.11.2009

novembro 17, 2009

Eu acho que a lógica exposta de maneira concreta pode ser fato tão duro confrontado com os mais doces dos corações.

Acredito na vida nua frente ao espelho, longe dos sonhos e fantasias e perto dos murros e abraços: apertados, desengonçados, humildes e forçados, como de fato são.

Talvez a frieza no coração de Augusto Cartesiano seja pelo vício do processo de petrificação de seus órgãos internos. Não digo aqui como ponto de vista positivo que a lógica ao pé da letra seja minha filosofia budista, mas digo que ela e a compreensão da beleza junto à lama, não só quando maquiada, fazem meu ponto de vista. Não me incomoda a clareza, ela me encanta. E ouse colocar o sol como flor em um poema e não chorar ao ver que ao despertar do dia é luz que brota. Estar perto demais pode ser perigoso, haja coragem… Que falte! Prefiro tocar o túmulo a imaginar o casulo. Não fujo. Sou intruso. Confuso. Mas perduro. O tempo que for. Para ver do mangue a orquídea nascer e quem sabe cedo morrer. Não importa! Não importa. Estou no ponto que digo tente fazer feia a vida construída a base de pétalas translúcidas e esmeraldas e rubis e diamantes por todo lado com a foto no retrato da mais bela mulher. Com ratos e fezes, homens feridos apodrecendo em um grande lago: feridos pelos seus semelhantes a todo custo por conta de meio pão sobre o prato. “Havia de ser um inteiro!” Exclamou.

Tente, tente fazer e juro, juro, não conseguiras.

Estou num ponto onde o passado cai como véu e vejo o mar. “Um peixe com o oceano inteiro para nadar”.  Pronto para trabalhar, para fazer aquilo que amo sem pensar em nada mais. Em nada mais além da própria vida presente. O beijo. A respiração. O passo. A flor que cai após brisa lenta que passa em momento crítico entre primavera e verão sobre o banco que repousa o velho que baba na poça da chuva de ontem onde pousam mosquitos com esperança de ali formarem família, como a que ele não tem; e nem queria ter; não precisaria ter; se recusaria a ter; mas sente saudades do dia que brigou com eles por causa de seu problema de alcoolismo. Sonharia ele brigar de novo! Chegaria a esse ponto, mas sabe…? Chegando a esse ponto, um beijo repousaria sobre a bochecha da filha que jamais foi esquecida e a mulher por mais que magoada jorraria lágrimas pelos olhos por conta da transformação que um sentimento tão forte quanto esse pode dar … que por tudo, apesar de tudo, jamais quiseram excluir alguém. Não podia ser diferente.

Estou num ponto onde o futuro não existe.

Estou num ponto.

No ponto.

Não mais.

Me vem a paz instável do que é viver sobre o descobrimento das próprias coisas que dei por concluída. Me vem o medo depois de dias de sofrimento sobre chicotadas e maus-tratos de pessoas que pareciam gozar ao me torturar. Me vem a fome, de gula, já que prazer é escasso na terra onde o suor é preciso na escalada em grau negativo de superfície coberta de vaselina e cacos de vidro. Me vem a angústia. Me vem a raiva! A raiva! A raiva! A raaaaaaaiva!!!

Tão boa quanto o beijo

Dolorosa frente ao tonto

Que tonto

Tente, tente, e não conseguiras.

coé

novembro 9, 2009

44822651

02.11.2009

novembro 3, 2009

Sabe que falta um laço no portão? É Pra dizer que o passado foi bom e que o tapete é novo.

Muito bom estar em casa, mas é complicado quando não se acha nem o sal. É estranho principalmente o começo onde as paredes são cruas, sem marcas. As velhas eram manchadas pelos dedos pretos dos pés que descansavam enquanto pensava sobre alguma coisa singela, como alguma composição, ou em simplesmente nada.

Hoje preciso de um tempo.

De um tempo para dar o que me foi útil um dia e passar isso adiante a quem agora

Precisa de um tempo para pensar ou é exatamente a dor da despedida?

Preciso de um tempo.

deicaimento beta

outubro 11, 2009

Não tem conteúdo mesmo. Não leia para falar a verdade. Falo isso, mas no próximo parágrafo vou entrar em contradição. Então, não espere coerência ou coesão. Estou sendo posto em moldura e vai, vou repetir e resmungar o problema de apropriação indébita de assuntos consideravelmente vagos, provavelmente não muito diferentes dos seus papos desinteressantes sobre como foi seu dia na faculdade ou os problemas que tem passado para pagar o aluguel. Tudo isso é extremamente sem sentido, não me interessa ouvir de absolutamente ninguém. Não me interessa saber se sua mãe morreu, ou se sofre por um amor perdido. Não me interessa nada disso. Não me interessa nem saber suas conquistas, muito menos seus fracassos. Me interesso unicamente por você, isso tudo é desnecessário, e de fato não me importo.

Gosto do jeito que fala das flores. Gosto do jeito que afina a voz quando reclama sobre alguma coisa sem sentido. Gosto do jeito que critica de forma claramente exagerada as idéias dos outros. Gosto do jeito que arruma os cabelos. Gosto do jeito que tira as folhas secas do telhado. E do jeito que imita a tartaruga ao comer alface. Mas as flores, as coisas, as idéias, o cabelo, o telhado e a alface que se explodam!

São coisas, coisas são desnecessárias e completamente superficiais no campo onde a essência é o que se enxerga e não precisa de linguagem pra ser veiculada mesmo que seu rosto seja bonito – isso é só consequência. Entendo a necessidade do corpo para a condensação da alma, mas no fundo no fundo é só a casca do pistache.

Eu até gosto da casca do pistache. Minha mãe comprava pistache sempre aos domingo quando a família repousava vendo fantástico e conversando até a madrugada. Hoje, não mais. Não há família e passo o tempo todo correndo atrás de bicos para pagar o condômino do apartamento, e o pouco que sobra serve para comprar alguma comida. E normalmente esses trabalhos são complicados. As pessoas que contratam são arrogantes e esperam algo de você que elas não dizem e retribuem a minha falta de capacidade com chamativos nada dignos e um desconto no salário no fim do dia.

Acho que vou para o mato, para o interior de minas gerais plantar. E o único problema será a indecisão entre couve ou beterraba. Nada me prende aqui. Tudo que procuro já achei. Inclusive você que tanto gosto, confesso: pode ficar, não preciso também. Levo roupa para não ser preso e água. Não preciso de ninguém. Nem nada. Só da terra que me faz viver.

cookies

outubro 11, 2009

Já fingi várias vezes ter a resposta. Ela se torna vulgar e ninguém hesita em ajudar.

Me aproximei de uma das prateleiras que tinham todas as frutas que precisava, não sei se tem estação para dar, mas sempre estão lá,  normalmente pego as envelopadas para não ter erro, mas já estava ficando ridículo. Ao me aproximar, praticamente cientistas examinavam os elementos frutíferos por métodos que mantinham a integridade, mas ao mesmo tempo obtinham com toda a sagacidade: se a manga já estava boa ou se o abacate precisava ser envolvido em jornal por alguns dias. Cacoete de manipulação: fingi ser mais um experiente. Apertei, cheirei, joguei pro alto. “Opa parece que você achou uma boa, né?”. Pronto está aí a resposta, sem dor ou conhecimento.

Já se vão horas perdidas em dilemas ansiosos, pensando feito gago apressado. Livros de páginas abertas e rascunhos repetidos em padrões dispersos em folhas jogadas pelos cantos do quarto que já não é arrumado há dias. Minhas canetas já sabem o que vou dizer, tudo aquilo que sei, que não termina e espera; espera aparecer algo de novo para fechar todo o raciocínio. Espero que caia do céu, porque os livros nem foram lidos, e os rascunhos, como disse, não vão a lugar algum. Pensando nas frutas, talvez a solução seja fingir e parar de me preocupar.

Senhor Fredericksen a gente pode fazer compras hoje? Ein? A gente pode?Não queria comprar bananas, mas a minha mãe disse que me fazem ficar forte e assim posso ir para escola sem ter me preocupar com os meninos da quinta série. Você gosta de bananas Senhor Fredericksen? Ou prefere maçãs?Eu prefiro as maçãs. Elas me lembram os dias que ia para festa junina e comia maçã do amor com meu pai. Essas aqui não tem açúcar não, mas são boas também. O senhor gosta de festas? Ein, Senhor Fredericksen? Gosta de brincar de jogar bolas na boca do palhaço?

Não, Russel!

A idéia de não ter preocupações é retrograda, já foi-se o tempo, o mundo é muito complicado e não vou perder meu tempo com certas baboseiras que nem ao menos se sustentam com argumentos frouxos. Podiam elas fingir com certas palavras rebuscadas, que fazem uma narrativa bonita, ou um pensamento inteligente. Mas não. Ficam lá. Relapsas.

Alegórico como toda prosa rodeada de adjetivos bonitos, intrínsecos de um grupo que pela robustez enxerga beleza, argumentos são a chave para a lógica do fingimento. Fingimento não pode ser uma boa palavra para descrever um bom pensamento, é feia, soa feia, nem ao menos faz a única referência popular que poderia fazer do poema do poeta que fingidor (seria melhor citar o autor? Ou não). Logo, argumento não seria para validar algo genuíno que parece ou que pode realmente ser verdade.

Complicando o texto em frases longas que tiram o ar de qualquer nadador mesmo sem vocábulos bonitos mas com pontuação ausente pode-se fingir autentico. Pode-se fingir inteligente. Ou qualquer outra coisa que caiba aqui ou que venha de sua crítica auto-reflexiva sobre o que acho ou que tenho ou que realmente sei sobre o que estou falando. Se perde ai! E julgue sem pudor, que sei que não tem depois de ter feito tudo que fez, e de maneira suja questione a verdade que é imposta em metalinguagem escrachada e não me venha com desaforos sem sentido como perdi meu tempo, ou algo assim. Vai toma no meio do seu cú! ta bom?! Que os mares quentes corram pelos corredores de sua casa!

No final das contas nunca se sabe. Simplesmente tenha fé. E acredite que disse tudo aquilo que precisavas ouvir, e não se esqueça: duas folhas de jornal e enrole bem e deixe descansar por dois dias em lugar fresco longe do sol.

não compelido

outubro 3, 2009

O Velho

“dirigida contra aqueles que estão determinados, por estupidez ou por desígnio, a fazer explodir o planeta ou torná-lo inabitável. Como o pessoal da publicidade (…) estou interessado na precisa manipulação da palavra e da imagem para criar uma ação, não a de sair para comprar uma Coca-Cola, mas a de criar uma mudança na consciência do leitor”.

William Seward Burroughs, sintetizando sua obra

02.10.2009

outubro 2, 2009

Eu acho que já extrapolei. Escancarei todo o processo que até pra mim começa a ficar perdido. Não sei até que ponto isso vai. Tenho pensado em algumas coisas. “Tenho pensado”, meio dramático assim mesmo. Bem infantil mesmo. Como quando se aprende algo novo e demora um tempo para tudo se arranjar. Como quando uma solução recebe um novo composto e precisa de tempo para se mostrar. Como quando um sistema perturbado percorre todo um caminho tortuoso de desarranjo aparente que no final acaba concluindo em organização latente. Não vim dizer absolutamente nada em específico, mas agora a pouco estava vendo televisão, na verdade ainda vejo, ligada, porque ainda resiste em meu quarto não sei muito bem porque. Tinha que comentar isso com alguém, fofoca mesmo, de high school (não tinha nenhuma best friend para falar). Cara, vocês tem que assistir Brazil´s next top model. É sério, não queria contar todo o show que acontece; não diga nada como que perda de tempo; ou ainda suponha que seja ironia minha; falo sério mesmo. É muito engraçado. Preste atenção: varias modelos; em uma casa; discussões sobre cabelo e maneiras de andar na passarela; de repente; um professor, repito, um professor, vem de salto…; no júri um cara completamente esquisito que me lembra às vezes misturas que vagam entre Saddam Hussein, o Vega do street fighter e uma cigana cheia de jóias, incluindo aquelas argolas gigantes que encostam no ombro e pulseiras em forma de corrente: o nome dele é dudu-muso. É muito conteúdo pra se perder, pra ir e pirar em analises filosóficas, antropólogas, etc… Transexuais, ou algo assim; gays, consumismo, beleza, estética. Mas nesses dias vim pensando, na verdade continuei pensando. Sabe quando se entra em retiro espiritual? Quase isso. A vida é um drama italiano de muitos gestos, muitas lágrimas, e muitos tapas, mas que pode ser convertida em comédia romântica a custo de hipertrofias na região das válvulas tricúspide ou mitral. Um bom ator sabe buscar a essência de seu personagem no fundo da piscina de bolinhas, que esconde, além de tesouros açucarados, toda a trama que é clara e intuitiva. Pergunte-se ator que personagem de fato és. Não aquele que tenta, nem aquele que parece frente aos outros, nem aquele que sonha ser. Pergunte o que quiser saber sobre você, ou o que quiser conhecer sobre os arquivos acásicos; basicamente sabe-se de tudo, tenho certeza, mas precisamos lembrar. Memória registrada do suor que pinga no chão e marca sua posição, mas, que ao mesmo tempo, efêmero, decola e se dispersa, como uma simples molécula de água, como uma simples composição que pode ser perdida no número de Avogadro que já vai pra mais de qualquer valor que possa ser escrito por extenso. O mundo sente a vibração do som e da cor. Uma pedra por mais impertinente que possa parecer no meio do caminho, sente e marca, aquilo por onde passa. E eu quando escolho frente a várias em um rio, pela sua forma pela sua cor, e acho ela bonita, após um, dois, três dedos, e a mão, passo por tudo aquilo que passou. Procuro a certo tempo uma história, que seja argumento bonito, ou tela suficiente para ser coberta de tinta e palco para algo que é claro e não precisa de voltas e voltas para ser dito. Acho que consegui. Mas talvez use de algumas pessoas às vezes ou de alguma coisa que esteja passando na televisão como uma mancha para quebrar o gelo entre nosso encontro romântico. Mas isso é só o começo. Acho que chegaremos um dia que roupas ficarão unicamente no cabide; que você não terá vergonha de ir ao banheiro comigo escovando os dentes; e eu estarei te esperando com chapéu de papai Noel com um grande sorriso sem hesitar em dizer que te amo.

“Pois bem, eis o caminho mestre

Sem médico, dinheiro ou bruxaria:

Retorna à vida campestre,

Cava e lavra descuidado,

Conserva-te e à tua mente,

Num círculo bem limitado,

Come da terra somente,

Animais entre animais, esterca

O campo que cultivares” (Fausto I, cena 6)

“A ‘vida simples’ não pode ser simulada e por conseguinte a existência não-problemática do homem pobre, entregue ao destino, nunca será obtida por contrafação. Só o homem que vive tal vida, não como mera possibilidade, mas por uma necessidade implícita de sua própria natureza, poderá negligenciar cegamente o problema da psique, uma vez que lhe falta a capacidade de compreendê-la.” (C.G. Jung, O eu e o inconsciente)

Separo-me a todo instante

Como a nata sobre o leite

E o maracujá que teima a flutuar quando se propõem a suco

Mesmo que falso seja

Que incapaz seja

De saber a verdade

Sigo o caminho de emancipação

A dor é grande como um filho que deixa a mãe o amou em aflição

“Vende-se de fé! Bom preço! Aceito trocas também! Precisa de fé, senhor?”, disse um homem com cartaz colocado em seu pescoço. Vendia fé em meio uma multidão. Feirantes andavam de um lado para outro. Ele vestia trapos de cores sujas e falava com tom de entusiasmo todos os anúncios. Este homem ia sempre ao mesmo local toda semana, e nunca, ninguém, se interessou.

Acho que o grande problema disso tudo sempre é a noção de passado e futuro. Passado é o que te influencia. Futuro é detalhe. Passado traz o medo. Então, Livre-se dele, mas agradeça. Sempre agradeça. Pensa no futuro… Olha como ele vai ser bonito, será que vai conseguir a casinha que quer? Será que o emprego vai ser bom? Isso… isso… fica pensando mesmo. Faz isso, perde seu tempo se preocupando com o que não existe. Perde seu tempo, enquanto o futuro não insiste e o presente passa sem você ver. Não é um questão única de viva-o-momento, sente-a-vibe, é uma questão muito mais prática que isso, de lógica simples, de causa e conseqüência, de construção, de construção discreta progressiva e não a frente de seu tempo relativistico, que pelo estudo da complexidade entende-se que um ponto da origem a campos de destino e para cada ponto existe um campo, se este ponto que falo é o presente, escolha o presente e tenha o futuro, mas lembre que é incerto. O fim da certeza já foi postulado e não me venha com previsões, e se as fizer seja claro que elas não definem absolutamente nada. A ciência já quebrou cara, uma, duas, três vezes e vai continuar quebrando, mas agora que já se sabe, não leve a vida tão a sério, pelo menos isso.

Oi! Vou fazer umas confissões, hihihihi. Pode? Então tá. Eu adoro falar dos meus problemas =]. Não sei muito bem porque =0. Eu sempre falo. Olha, ontem eu ta indo pro trabalho e ageladeira quebrou bem na hora, tive que levar pra consertar, me atrasei toda, meu chefe veio brigar comigo… hihhihih olha eu de novo, perdão, sim? Mas é uma questão de eu ter capacidade de lidar com esses desafios que a vida traz, sabe? Eu até peço pra acontecer alguma coisa cabulosa, sei lá, uma chuva forte que destrói toda a casa e posso contar pra todo mundo como consegui contornar o problema, mas perai, chuva forte que destrói a casa é meio tenso, algo mais sutil que seja fácil, mas que pareça grande, hihihihihi. Quando tem alguém junto, sempre gosta de disputar comigo, eu falo e ele fala, cada um com um absurdo fantasiado maior que o outro, chamo isso de pique-ego. Sempre brinco, mas quando to cansada fico de altos.

“A segunda possibilidade seria a identificação com o inconsciente coletivo. Isto equivaleria a aceitar a inflação, exaltada agora como sistema. Em outras palavras, o indivíduo poderia ser o feliz proprietário da grande verdade que o aguardava para ser descoberta, o senhor do conhecimento escatológico para a salvação das nações. Tal atitude não implica necessariamente a megalomania em sua forma direta, mas sim na forma atenuada e mais conhecida do reformador, dos profetas e mártires. As mentes fracas correm o risco de sucumbir a esta tentação, uma vez que geralmente se caracterizam por uma boa dose de ambição, amor-próprio e ingenuidade descabida. Abrir a passagem da psique coletiva significa uma renovação de vida para o indivíduo, quer seja agradável ou desagradável (…) A identificação parece ser o caminho mais curto, pois a dissolução da persona na psique coletiva é um convite direto para as bodas do abismo, apagando-se toda a memória nesse abraço. Este traço de misticismo é característico dos melhores indivíduos e é tão inato em cada qual como a “nostalgia da mãe”, nostalgia da fonte qual proviemos.” (C.G. Jung, O eu e o inconsciente)

Pessoas de moicano não podem rir. Devem ser fortes, tocar bateria e fazer cara feia, não? Nunca imaginaria (na verdade, imaginar na idéia de que esteja dentro perante um estereotipo de que punk bebe e fuma), e jamais um cara de moicano rindo e chorando quando visita Nothing Hill lembrando da Julia Robert em seus belos momentos com o inglês engraçadinho, ou se deliciando frente a televisão com um sorvete Häagen-Dazs num sábado a noite, iria existir. Mas vi! “Porque diabos então moicano usa? Ainda é tempo. Feche o rosto; faça cara de mal; não mostre sentimentos, a não ser raiva, e se caso uma criança passe, nunca(!), nunca(!), fale “ahhhh… que bonitinho”. Tá entendendo? E não inventa de piercings com cores vivas. Você é mau. Muito mau. Lembre-se disso.”
Estava no bosque quando viajei na incoerência de estereótipos. Precisava comer. Comi. Comi bem, pra falar a verdade – salada. De sobremesa, pela duvida, metade de prazer via torta de maça e outra pela torta de limão. Quanto açúcar! Quanta doçura!
O boi da fazenda do meu pai, na verdade da ex-fazenda, se chamava brutamonte, dei esse nome a ele. Gostava dele apesar de sempre bufar quando eu chegava perto, era uma coisa tipo aventura juvenil na mata fechada que todo perigo é possível como João e Maria, mas sem a bruxa, que traz toda emoção pelo medo. Isso me fazia gostar dele.
Passei em frente à chapa, ou para os que preferirem: grill, enquanto filés de ex-vivos estavam sendo colocados para serem “Mal passado por favor! Bem vermelho!”, quando lembrei dos tempos que comia carne, assim como o brutamonte comia mato e provavelmente comido foi por mim algum dia desses passados. Engraçado isso. É cultura. Paradigmas. Sei lá. Sinto saudade do brutamonte, queria saber como ele está, acho que vou chorar, buáááá, buáááá. Não ria intruso! Não ria! Não ria se não te mato! Como ousa achar entretenimento meus pensamentos mais profundos sobre o brutamonte, o boi querido? Ein? Como ousa, ser pobre de alma? Como ousa?
Estava esperando um amigo se despedir, ele voltou tossindo e rindo. “Cara… comi cabelo”, ele disse. Claro que não entendi, e ele explicou: “Po… ela tava com o cabelo apontado pra frente, dei um abraço, e ele entrou no fundo da minha garganta. Deve ta todo molhado. Ela vai reparar, que nem em vai ficar com Mary, naquela cena, sabe?”. Achei engraçado. Estavamos bem alimentados. Nos diferíamos só pelo fato que ele tomou um cafezinho. Tive uma aula e voltei para casa. Estava cansado.

“Disfarce! Ele vem vindo. Corre apressado. João é sempre assim, meio atordoado. Acho que não verá a gente. Sabe o que poderia acontecer, né? Ele irá te ver e sem muita demora vai perceber que não trabalha mais na loja de madeiras do seu avô (aliás, aquela atendente é bem simpática, não?), deduzindo que não conseguirá pagar o que deve a ele: cento e cinquenta reais em uísque e cigarros”, eu disse, assim que viramos a esquina da rua onde moro. Tínhamos, eu e Jorge, acabado de sair do meu apartamento encupimzado prestes a se esfarelar numa sexta à noite.

Uma noite de fuga de problemas, não para mim, para Jorge sim, e o principal, talvez não o mais sério, mas o mais impertinente estava à frente: João, de cabeça baixa, camisa amarrotada não mais que seu cabelo e chinelo nos pés. Nos cinquenta-cem  metros que nos separamos fiz questão de levantar o que poderia acontecer com a nossa noite. Ele começou a ficar nervoso e desde a primeira frase já se mantinha em silêncio e em reza para nada de ruim acontecer, ao mesmo tempo que em suspiros levantava a cabeça lançando um olhar tá-bom-já-entendi-fiz-merda-mas-agora-pode-ficar-quieto.

“Xi!…”, disse ele. (Puf. Puf. Puf. Puf. Puf.. Puf… Puf….. Puf……).

“Não acredito! Que cagão!”, exclamei um sussurro, não queria ser a causa do fracasso da aventura.

“Você não entende… Sabe que arrumei um emprego, né?”. Ele retrucou depois da clausura, João já devia estar no México nessa hora.

“Sei… Sei…”, eu disse.

“Então….”, ele disse.

“Então… Então o que?”, eu disse, como acontece em todas as vezes que ele resume voltas filosóficas e anos de experiência de vida nesse ar preguiçoso de você-entendeu.

“Tudo já se ajustou. Saí da loja de madeira porque não agüentava os caras gritando que era para trazer mais madeirite, e principalmente por causa daquela loira rabugenta dando ordens atrás do balcão. Agora, estou com rumo tomado, como sempre estive. Isso você entende, né?”. E veio a explicação depois de bufadas de esforço. Era retórica a pergunta, respondi com uma levantada de sobrancelha e uma puxada de boca e continuamos andando.

A noite já era noite há um tempo e o comercio já fechara. Os postes iluminavam entre as arvores deixando desenhos fractais no chão e o silêncio dava espaço ao vento. Andaríamos por mais quinze minutos se não fosse um antigo amigo meu, que mora perto mas pouco vejo, passasse oferecendo uma carona. Conversamos os três sobre o que estávamos indo fazer, a conversa se resumiu em frases vagas como: “é.. a gente tá indo…” e o de todo sempre “não sei”. Na verdade me incomoda um pouco este tipo de pergunta, até parece que ele sabe o que vai acontecer no próximo segundo, é tudo meio que subentendido, “Então…”.

O bar estava com uma cara boa, algumas pessoas que estavam sentadas logo na entrada falavam algo sobre pterodactilo, e isso me lembrou uma piada muito engraçada mas sem sentido se for contada assim. Entrei rindo. Jorge estava meio abalado, não que João tivesse deixado ele tão nervoso a esse ponto, mas o fato acendeu velhas questões sobre sua opção de vida, e se seu avô ficaria revoltado com sua saída da loja. Ele é tranquilo, mas bem dramático.

Quando o segundo Martini chegou, a situação era um pouco diferente, não pelo Martini em si, mas pela bela garota que havia sentado ao seu lado. Eu estava lá, contente, pleno, de ego levantado pelas duas japonesas do dia anterior que resolveram se apresentar e fazer propostas exóticas envolvendo algo como um makimono de manga, pepino e dendê. Estava bem com meu Martini, e a garota até que simpática, me colocou na conversa perguntando o que eu fazia, na verdade o meu silêncio não me incomodava, acho que nem a ela, ela parecia interessada em pessoas num modo geral.

“Eu?”, terminando o ultimo gole da taça e indiretamente pensando no tipo de pergunta,  achando estranho que tipo de resposta ela esperava.

“Eu bebo. Quer Martini?”, não quis viajar muito, preferi fazer algo que se aproxime de uma piada.

“Haha. Eu aceito.”, ela disse.

Pedimos mais três, o garçom já entendia o que era, “Traz mais três, por favor”.

Conversamos por mais tempo, Jorge pegou o telefone dela e se despediu, ela tinha que ir, já estava ficando tarde no final das contas.

Depois do sorriso feliz pelo acontecido, Jorge começa algum assunto sobre algo que de fato não importava, mas estava claro que não era sobre aquilo que iríamos falar. Falava ele sobre as copas das árvores e como o comportamento inalterado das palmeiras pelas estações o incomodava, acabamos chegando em algum assunto pesado, pesado demais para ser carregado e encerramos pedindo algo para comer. Pedi um hambúrguer com mostarda e picles e ele um pão com queijo brie e damasco, acho às vezes que ele é gay, ou faz isso só de onda, mas ele é viciado em pão com queijo, eu entendo no final das contas.

“Cara… você é gay.”. Eu disse.

“Aff….”. Ele disse.

“Tá vendo.. olha ai. Homem que é homem não faz aff…”. Eu disse.

Ele se levantou bebeu o Martini em um gole só, junto com a azeitona, e olhou para mim sério, e se virou, e foi ao banheiro.

Voltou falando com o garçom que conhecia, cheguei a cogitar que iria fazer alguma brincadeirinha estúpida.

“Quer mais Martini?”, ele perguntou normalmente.

“Quero..”, eu disse.

Ele se virou para o garçom-amigo e só confirmou para trazer mais dois.

O Jorge é meio psicopata às vezes, meio esquizofrênico, de verdade! Apesar de usar esquizofrenia como definição genérica para problemas psicológicos, nesse caso falo mesmo de esquizofrenia. Ele encarna isso como uma brincadeira, mas ele é um pouco assim mesmo involuntariamente, só faz uma caricatura de si mesmo nos momentos em que está realmente feliz.

De mais dois para simplesmente “Mais, por favor” já estávamos no sexto Martini e não havia mais garota alguma no bar, mas persistiam uns caras mais velhos que fumaram a noite toda e falaram bobagens sobre musica analisando os solos do Joe Cocker. O garçom já estava arrumando o balcão… Jorge resolveu que devíamos ir embora, ele não gosta desse clima de ver o lugar pronto para fechar. Pagamos e agradecemos o garçom. Acenamos a com a cabeça para os caras da outra mesa, não que não tivéssemos falado mal deles durante as conversas na mesa, mas era um sinal de que mesmo eles ali falando bobagem e cuspindo fumaça foram uma companhia e motivo de várias conversas; um agradecimento, eles retribuíram.

Não tinha carona, na verdade, pouco provável, já eram mais de cinco da manha e o sol já estava prestes a nascer. Jorge iria para casa, estamos exatamente no meio entre as nossas casas. Conversamos um pouco. Um aperto de mão, junto com uma olhada e um sorriso de que a fuga foi bem sucedida e que aos poucos tudo se acerta, nos despedimos, então.

my bed

agosto 18, 2009

Esse quarto não se arruma. Ele está sempre arrumado, tudo em seu devido lugar. E quando chega a cabeceira nova, o tapete em pouco tempo já vem para combinar e a cortina de repente se mancha de tinta para modernizar. Transição que carrega transição para nunca mais mudar. É sim, constante. Devir. Mudança, não um ponto, um processo eterno: talvez a definição de infinito.

Há quem pense (eu juro), há quem pense que o destino é o fim.

Vou fazer o seguinte então: parar. Mas parar onde? Tempo? Espaço? Pensamento? Falamos aqui sempre de pensamento. Meditai então.

(…) De fato, funciona, um pulo para o repouso de plenitude mas longe é do túmulo real dos dilemas, que assim que abrir os olhos, tropeçarei. A idéia é então entender, assim como o andarilho entende a caminhada, entender o processo, já que sinceramente, sinceramente, não tens opção: a vida te poupa do paradoxo das escolhas do xampu no supermercado.

Entende-se o processo como fim. Podemos assim chamar de colapso da função de onda. O colapso das infinitas dimensões de probabilidades em um único momento que não anda. Resta. Inerte.

Complacente como cão mas perigoso como orquídea, Geovan libera seu papagaio da gaiola como em toda manha. Ele se diverte com o Joe (é assim que ele o chama, não sei porque um nome em inglês, mas enfim, é legal). Joe fala. Hey Joe como vai? “Vou bem. Vou bem”. Mas, joe é um mala. Geovan quer matá-lo, ele fala de madrugada com o rato (animal de hábito noturno) sobre seus problemas familiares de abandono. Isso deixa Geovan zangado. “Geovan mata papagaio mala com alpiste envenenado” seria a manchete do jornal do prédio se ele não tivesse jogado o Joe, querido Joe, de pára-quedas. É meio sádico, mas isso de alguma forma o lembrava de sua infância quando jogava seus bonecos camuflados. Mas não perde tempo, é dia de trabalho. Tudo passa como um evento neblinado na manha de pão com manteiga e café sem açúcar.

Segue andando pela rua já movimentada de seu bairro abarrotado de gente. Copacabana. Andar preciso, com certo gingado do ego, do poder, mas esboça seu sorriso simpático pelos conhecidos rotineiros: o cara da banca; o cara da farmácia; a exibida do salão; o senhor da peixaria que sempre dá tchau jogando escama de peixe, e por sinal ele tem cara de peixe, o peixeiro, Geovan é… Geovan é… normal, mas cearense, cearense normal, complacente, mas perigoso, ele é um cearense normal complacente perigoso.  Que ama os animais, ou não. Que gosta de açúcar no café, ou não.

Geovan cuida da iluminação do shopping Rio Sul, ele que monitora as luzes, cuida delas com grande dedicação. Ele tem idéia de desmistificar o espaço do shopping como um espaço vulgar, superficial, formal, clichê demais. Coloca luzes. Luzes azuis intelectuais nos bancos em frente à livraria. Amarelo sépia nos postes. Se perde na luz. Ele planeja, ilumina, e para. O espaço para por segundos antes das portas abrirem, e depois se mantêm, lá, mudando a cada pessoa que entra, a cada criança que grita e perturba o senhor que almoça com sua mulher; a cada mulher que grita olhaaaaa para a liquidação enlouquecedora; a cada batata frita que cai no chão; a cada passada de dedo gorduroso na vitrine que era para ser brilhante. Geovan entende. Ele entende… E não se aborrece. Ou não.

[My bed, Tracey Emin]

visiting grandma.

agosto 13, 2009

E te digo, se cair no chão, não pega não. É coisa feia menino. Pega outro pão do saco que trouxe e chute esse para os porcos do jardim, eles comem. E se comem! Tem manteiga e queijo na mesa; leite e suco na geladeira; pode comer quanto quiser; temos tempo… Seu pai vai chegar quando tiver entardecendo. Vai trazer ovos para o bolo de amanhã. Gosta de bolo? Bolo de banana? (…)

Espero que esteja gostando daqui. Seu pai vinha muito quando criança. Era um pouco mais novo que você. Gostava de correr pelos pés de café e pegar os grãos caídos no chão. Enchia o bolso como se fossem bolas de gude. Mas não jogava com elas não.

Achava ele que o café preparado depois do alomoço era feito com elas.

Achava ele, mesmo sem tomar, porque era novo de mais, que eram espremidas e o suco já saía quente.

O almoço era sempre algo muito farto, sempre seguido de uma sobremesa que levava fruta só como acessório, porque era o açúcar que de fato importava; e o café, com biscoitos amanteigados, encerrava o banquete.

Cheguei, trouxe os ovos. Fui a venda do Seu Carlos… Não sabia que tinha dois filhos. Lembrava só da Elaine. Ela brincava comigo. Lembra? Na praça em frente a venda.. O Seu carlos não gostava, ele achava que a gente namorava. Mas, sabe, a gente até que deu uns beijinhos. Mas nada demais. É engraçado como as coisas na infância acontecem e desaparecem com facilidade. As mais estranhas experiências passam sem rancor; sem arrependimento; sem problema algum. Isso até um certo ponto, eu acho.

Desaparecer pode significar esconder-se.

E ai, tudo, hoje (falo de problemas) é culpa da libertinagem do jardim de infância.

Hoje é só uma questão de tentar entender. Entender como ficamos tão duros.

(Pai, o que é libertinagem?) Leva os ovos ali para sua vó. Amanhã eles viraram um bolo. Um bolo de banana. Assim como bolinhas de café viram café. Sabia?

Grandma @ the backyard

Upload feito originalmente porLiyin the Designer-in-Pajamas

estica.

agosto 7, 2009

Tô de saco cheio! Não agüento mais! Chego sempre em casa com alguma coisa preparada para te trazer felicidade. Um chocolate ou um presente que me esforcei tanto para te agradar. E você ai com sua cara de “ah.. tá”. Sabe.. indiferença me tortura, queria o reflexo do que faço. Mas será que indiferença não é reflexo, será que… “Calma querido, é só o botox.”